domingo, 20 de agosto de 2017

Women's Pictures: Mulheres, Melodrama, Feminismo e Cinema



Saudações da montanha! Depois de longos 7 meses sem postar nada por aqui, resolvi finalmente voltar a escrever, e claro, sobre cinema. Eu fico por momentos num longo hiato, mas vocês podem perceber que quando eu realmente sento para escrever, eu escrevo mesmo (vide meu post sobre novelas que ficou quase do tamanho duma dissertação de mestrado, gritos).


Anyway, o assunto do post de hoje é extremamente fascinante e sempre me interessou muito. Falarei um pouco sobre os chamados Women’s pictures da Era de Ouro de Hollywood!


Bem, pelo próprio nome já dá para perceber do que se tratam esses clássicos: são filmes sobre mulheres, protagonizados por mulheres e que têm as mulheres como eixo da obra. Os estudiosos e críticos ao longo do tempo se dividiram sobre o termo ‘’woman picture’’, mas hoje podemos chegar à conclusão de que esses filmes praticamente compõem um gênero independente no cinema. Ao mesmo tempo, esse gênero pode ser lido como um subgênero do melodrama – o famoso dramalhão/novelão que tanto adoramos.  

Mais um campeão de audiência: Selo Lana Turner de novelão
Uma distinção que deve ser feita é com relação ao Woman’s film e o Woman’s cinema. O primeiro diz respeito aos filmes sobre mulheres, que ironicamente foram feitos e produzidos em boa parte por roteiristas e diretores homens, como veremos a seguir. Já Woman’s cinema se refere ao cinema feito por mulheres, atrás das câmeras, sobre os mais diversos temas, enfim predominando com frequência o universo feminino e suas questões pertinentes e contemporâneas.



No post vou focar mais nos clássicos femininos, mas aqui e lá falarei de produções feitas por mulheres. Para dar um bom exemplo, antes de adentrar de vez nos Women’s pictures, falarei de uma diretora da Hollywood Clássica que infelizmente é pouco lembrada, o que é uma pena já que ela tem muitos filmões no currículo, e acho que agora é uma boa oportunidade.


DOROTHY ARZNER




Dorothy Arzner foi uma proeminente diretora de filmes em Hollywood, desde os filmes mudos dos anos 20 até o começo dos anos 40. Para falar a verdade, Dorothy era praticamente a única diretora mulher americana nos anos 30, e uma das poucas que conseguiu consolidar seu nome no panteão do cinema americano da época.


Abandonando os estudos de medicina, após a Primeira Guerra Mundial, Dorothy resolveu tentar a sorte nos estúdios de cinema, aspirando uma carreira de diretora de filmes, pois segundo ela mesma, os diretores que sabiam de tudo e mandavam em tudo dentro dali. Ao longo dos anos 20 Dorothy aprendeu rapidamente um pouco de todos os setores, mostrando muita habilidade para a coisa, e trabalhando em dezenas de filmes durante sua carreira. Na Paramount, em 1929, Dorothy dirigiu o primeiro filme falado de Clara Bow, The Wild Party. Para deixar Clara andar livremente pelo set, a diretora acabou criando o que seria um dos primeiros ‘’boom microphone’’, uma tecnologia de som ainda no começo pois os filmes falados estavam apenas começando – assim se tornou a primeira mulher a dirigir um filme falado.  O filme foi um sucesso na época e tratou de temas fortes, característicos da cineasta, sempre em torno das mulheres.

The Wild Party ou YOU CAN'T SIT WITH US starring Clara Bow e companhia

Durante os anos 30, já trabalhando como diretora independente pelos estúdios, Dorothy Arzner emplacou seu nome ao dirigir marcantes produções e trabalhar com boa parte das melhores atrizes da época, como Sylvia Sidney (Quando a Mulher se Opõe, /Merrily We Go To Hell, outro excelente pre-code de 1932), Rosalind Russell (Craig’s Wife/Mulher Sem Alma – que seria refilmado com Joan Crawford nos anos 50 em Harriet Craig/A Dominadora),  Katharine Hepburn (Assim Amam as Mulheres/Christopher Strong, 1933) e Joan Crawford (Felicidade de Mentira/The Bride Wore Red, 1938). Em 1936, foi a primeira mulher a entrar no Directors Guild of America. Todos esses filmes citados são protagonizados por mulheres fortes e cheias de personalidade.

A rica herdeira Sylvia Sidney se apaixona por um escritor alcóolatra em Merrily We Go to Hell

Hepburn, num telegrama para um tributo feito à diretora nos anos 70, escreveu:
"Isn't it wonderful that you've had such a great career, when you had no right to have a career at all?" (Não é maravilhoso que você tenha tido uma carreira tão ótima, quando você não tinha direito nenhum de ter carreira alguma?).

Christopher Strong gira em torno de uma aviadora vivida por Hepburn, com ares de Amelia Earhart, que vê sua carreira ameaçada ao se apaixonar por um homem casado (Colin Clive). Nesse filme que Kate chama a atenção por sua fantasia de inseto em cena.

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Ainda no mundo da aviação, em 1943 Roz Russell viveu uma aviadora também dividida entre sua carreira e o seu amor por Fred MacMurray – numa biografia loosely based na vida de Amelia, mulher pioneira da aviação que desapareceu misteriosamente num voo em 1937.

Poster de Flight for Freedom, biografia fantasiosa da aviadora Amelia Earhart (direita)

Rosalind Russell se encontrou de fato nas comédias, com seu sucesso no filme Jejum de Amor (His Girl Friday, Howard Hawks, 1940). Antes, Roz só conseguia os papéis recusados por Myrna Loy, a doce e espirituosa ‘’ esposa perfeita’’ da época - elas se tornariam boas amigas. Com esse filme, Roz se firma como uma atriz cômica e mostra de fato todo seu potencial e timing cômico. Baseado em The Front Page, His Girl Friday chama a atenção por ter mudado o personagem jornalista homem para mulher - as brigas ficam ainda mais eletrizantes com Cary Grant tendo que discutir com Roz, não só companheira de jornal, mas também seu interesse romântico. O filme é uma das melhores comédias já realizadas no cinema.

Cary e Roz falam a mil por hora em Jejum de Amor


''The Perfect Wife'', Myrna Loy não tinha esse rótulo por saber cozinhar, cuidar do marido e dos filhos: ela não sabia nem fritar um ovo. Era inteligente, bem-humorada, estilosa e sabia se impor - mais que esposa, era cúmplice do seu par. Se o marido bebesse sete martinis, ela sentava e encarava também sete martinis. Ela era tão incrível que todos os homens queriam se casar com ela. O estúdio conspirou para Myrna e Rosalind virarem rivais, mas quebrou a cara: as duas viraram amigas e atrizes de carreira solidificada.

Craig’s Wife e Harriet Craig giram em torno de uma mulher rica, austera e dominadora com todos a sua volta – seu marido, sua prima e seus empregados. Dissimulada e mentirosa, tenta manipular a todos como bem entende, mas ao longo do drama as circunstâncias se voltam contra ela, culminando num dramático desfecho. Joan voltaria a fazer papel semelhante de bitch lacradora em Queen Bee.

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Roz nos anos 30 e Joan nos anos 50

Um filme raro e pouco visto de Crawford, The Bride Wore Red é um clássico conto ‘’rags to riches’’ (um personagem que vai da pobreza à riqueza), com Joan interpretando uma cantora de cabaré que posa de aristocrata, desfilando belos figurinos e penteado, e chamando as atenções do riquinho Robert Young e do humilde Franchot Tone, seu marido na época, no último dos sete filmes que fizeram juntos.
Felicidade de Mentira, de 1938


Escolhi um filme específico com o universo da mulher como pano de fundo. Dance Girl Dance, de 1940, é um filme de Dorothy notável pelos seus traços feministas. Mesmo que filmes aparentemente convencionais, o estilo e suas temáticas da sua obra chamam a atenção. No filme, Lucille Ball e Maureen O’Hara travam uma disputa acirrada por um lugar no showbusiness e pelo amor do galã feito por Louis Hayward. Mais do que um mero catfight (que rende uma briga de tapas épica entre as duas), a desbocada dançarina feita por Lucille e a doce e tímida mocinha de Maureen lutam para manter suas integridades num meio competitivo, explorador e injusto. Acho esse filme um ótimo entretenimento e que merece ser mais lembrado. Assistam!

O Mundo é Uma Dança

Ida Lupino não se limitou ao trabalho de atriz, e aproveitou para aprender tudo necessário para dirigir os próprios filmes durante sua estadia nos estúdios. Not Wanted (1949), mesmo não creditada, é um bom exemplar de sua carreira: uma jovem é seduzida e abandonada por um pianista, fica grávida e decide abandonar a criança. Cheia de remorso, num impulso ela cogita sequestrar o bebê de uma outra mulher. Na cadeia, por flashbacks, entramos na sua história. 



Ida Lupino além de diretora era uma excelente atriz. No drama The Hard Way (Vincent Sherman, 1943), ela e Joan Leslie viviam irmãs de personalidades opostas: Leslie como a boazinha e amorosa que sonha em ser artista da Broadway, e Lupino como a ambiciosa e calculista que quer só tirar proveito da irmã. Filmão! Irmãs rivais também era uma temática bem recorrente


GEORGE CUKOR
Impossível falar de Women’s pictures sem falar do diretor que ficou conhecido como ‘’diretor de mulheres’’: George Cukor. O diretor americano ficou famoso pela sua sensibilidade ao tratar dos temas do universo feminino, e de estar sempre trabalhando com as melhores atrizes do ramo, dirigindo-as sempre com charme, elegância e profundidade. Cukor se consolidou nas comédias, mas também dirigiu dramas memoráveis. Dirigiu clássicos como À Meia Luz, A Dama das Camélias (com Garbo) e a comédia Núpcias de Escândalo (The Philadelphia Story, 1940).

Uma das melhores personagens da carreira da Katharine Hepburn, que ressuscitou sua carreira após sua época ‘’veneno de bilheteria’’, Tracy Lord é uma moça mimada da alta sociedade da Filadélfia que vê seu mundo ir de ponta-cabeça às vésperas de seu casamento. Ela revê os próprios conceitos, sua relação com a família, e fica dividida entre o noivo que não ama (John Howard), um charmoso jornalista da imprensa (James Stewart) e o ex-marido que nunca deixou de amar (Cary Grant).

Núpcias de Escândalo: quintessência da clássica comédia de costumes dirigida por George Cukor

Seu trabalho mais women’s picture ever talvez seja As Mulheres (The Women, 1939), um filme com todo o elenco composto por mulheres! Até os animais do filme eram todas fêmeas! Recheado de estrelas, o filme conta com Norma Shearer como a traída pelo marido, Joan Crawford como a amante ousada do marido de Norma (e para completar, as duas atrizes na vida real tinham raiva uma da outra na MGM), e Rosalind Russell roubando a cena geral com sua personagem fofoqueira e amiga da onça que é responsável por semear as fofocas que fazem a história do filme girar. Para completar, ainda temos Joan Fontaine, Paulette Goddard, Hedda Hopper, Marjorie Main, Virginia Weidler e muito mais.

Cukor com o elenco do filme The Women, em 1939 - o grande ano da Era Dourada de Hollywood

Com belas tiradas, humor espirituoso e diálogos marcantes, as conversas delas giram em torno dos homens, mesmo que nunca apareça nenhum em cena, e isso em nenhum momento é necessário, elas se viram muito bem sem eles! As mulheres dominam o filme com suas personalidades únicas, cada uma com seu brilho especial e com o seu momento na história. Elas dividem risadas e seus momentos de drama, questões como amor, casamento e divórcio. E a cereja do bolo: um desfile em Technicolor com modelos do estilista Adrian.

Rosalind Russell rouba a cena como a futriqueira Sylvia

O filme foi refeito duas vezes: em 1956, The Opposite Sex, com June Allyson e Joan Collins; e em 2008, com o flop colossal Mulheres - O Sexo Forte, com Meg Ryan e cia.


ANTECEDENTES, HISTÓRIA, OUSADIA E TUDO MAIS

Voltando um pouco no tempo, ainda nos primórdios, pode ser visto que D.W. Griffith já dialogava um pouco com o tema, produzindo alguns filmes sobre repressão, resistência, e mulher no foco central das tramas, como em A Flash of Light (1910), Her Awakening (1911) e The Eternal Mother (1912). E claro, seus filmes com Lillian Gish sempre eram com a atriz fazendo uma personagem extremamente sofrida que passava pelas maiores provações, como em Lírio partido (1916) e Way Down East (1920), ou Vento e Areia (The Wind, Victor Sjostrom, 1928), só para citar alguns dos melhores filmes. Nos anos 20, também tem o caso de filmes como Sétimo Céu (Seventh Heaven, Frank Borzage), com a doce Janet Gaynor - o romance meloso e dramático, que se repetiria com Street Angel (1928) e Lucky Star também de 1929.  Sétimo Céu foi refilmado depois com James Stewart e Simone Simon (a musa do filme Sangue de Pantera).

As mocinhas sofridas de Gish passavam pelo diabo, como em Way Down East onde a moça chega a perder os sentidos num rio congelado


A limpadora de ruas vivida pela doce Janet Gaynor encontra amor e refúgio nos braços de Charles Farrell, até que a Guerra vem no caminho dos dois

Mary Pickford venceu o Oscar em 1929 por sua performance de bela assanhadinha de Coquette (dir. Sam Taylor). A atriz se deu bem com a transição para o cinema falado, mas se aposentou das telas poucos anos depois

Mais para a frente, fazendo um pequeno panorama de filmes significativos ainda na época pré-Código Hays (os famosos ‘’pre-codes’’, livres da censura até o ano de 1934, que pretendo falar mais sobre num outro post), muitos filmes puderam tratar, mesmo que de forma ainda velada, sobre lesbianismo, prostituição, abuso sexual, adultério, divórcio, relacionamentos abertos ou abusivos, e as dificuldades das mulheres num mundo machista e dominado por homens. A graça desses filmes é mostrar sexo SEM sexo - e a graça é sugerir, não mostrar. Lembrando que esses filmes não são melodramas propriamente, são dramas ou comédias com temáticas sérias, abordagens irônicas e lascivas da realidade. Mas já permeiam nas narrativas alguns temas centrais dos women’s pictures nos anos seguintes.


Para quem tiver interesse, a minha lista de 10 filmes clássico contra a cultura do estupro, que combina com a temática da mulher e do feminismo que estamos tratando. Só clicar aqui.


Dos pre-codes centrados em protagonistas femininas, o melhor exemplar talvez seja Serpentes de Luxo (Baby Face, Alfred E. Green, 1933), com a maravilhosa Barbara Stanwyck. Explorada sua vida inteira pelos homens, ela decide virar a mesa e inverter a ordem das coisas à sua maneira – usando os homens, dormindo com todos eles, ela consegue ascender socialmente.
Barbara Stanwyck resolvia virar a mesa em Baby Face

Norma Shearer e Chester Morris em A Divorciada. 
Vencedora do Oscar por sua atuação, Norma Shearer em A Divorciada (The Divorcee, Robert Z. Leonard, 1930) descobria a traição do marido e resolvia pagar na mesma moeda.

Em The False Madonna (1931), a musa dos pre-codes Kay Francis era uma trambiqueira que se passava pela mãe de um garoto cego para extorquir dinheiro, mas se envolvia de tal forma ao garoto que se tornava uma pessoa melhor.
Abandonada grávida e à própria sorte quando jovem, o mundo fez gato e sapato dela, mas ela não deixará barato! Loretta Young era uma mãe trambiqueira que usava o filho para extorquir Cary Grant em Nascida para ser má (Born to be Bad, 1934). O amor desinteressado e a caridade são celebrados pela produção.

A clássica história de Sadie Thompson, uma prostituta que encontra a redenção num embate com um conservador missionário na ilha de Pago Pago, foi filmada três vezes para o cinema nas décadas de 20, 30 e 50, com Gloria Swanson, Joan Crawford e Rita Hayworth


Nancy Carroll faz uma linda e vivaz garota que é vítima dos rumores maldosos de uma pequena cidade em Sábado Alegre (Hot Saturday, William A. Seiter, 1932).


Bette Davis já ousava na sua fase inicial (que a própria atriz odiava e achava tudo lixo) em Ex-Lady (Robert Florey, 1933), vivendo uma jovem de espírito livre que não acreditava em casamento e resolvia dar o troco no homem infiel com a mesma moeda. Esse e Parachute Jumper são os filmes que aparecem em Baby Jane quando mostram que Jane Hudson era um flop.

Mae West salvou a Paramount da falência nos anos 30 e rendeu muita bilheteria com seus filmes ousados que ela mesma estrelava e roteirizava! Em plena era do moralismo, a atriz e escritora conseguia ousar com falas de duplo sentido e suas personagens que dominavam não só a cena mas todos os homens dos filmes



Antes de Stella Dallas e Mildred Pierce, Apple Annie de Dama por um Dia era uma pobre vendedora de maçãs que juntava todas as economias para sua filha, que vivia longe e achava que a mãe era uma senhora da alta sociedade.  A história, uma comédia com ares dramáticos e inspiradores, foi filmada por Frank Capra em 1932 com May Robson (Lady for a Day) e em 1961 com Bette Davis (Pocketful of Miracles).

As duas versões de Dama por um Dia


In glorious black & white, Ruth Chatterton comia os homens no café da manhã com sua protagonista, uma dura executiva de fábrica de automóveis, no pre-code de 1933 Female (Tu És Mulher, dir. Michael Curtiz).

Claudette Colbert, não tendo condições de criar seu filho ilegítimo, o entrega à adoção e decide seguir carreira de cantora em Torch Singer (1933)

Constance Bennett, uma das rainhas de bilheteria dos anos 30, constantemente protagonizava melôs interpretando moças finas e ricas. Em Rockabye (Cukor, 1932), ela era uma atriz de origem humilde que lutava pela guarda de uma criança, e se apaixonava pelo produtor (casado e pai) de sua peça na Broadway.

Apenas um exemplar da rica parceria entre Marlene Dietrich e Josef von Sternberg, o melodrama A Vênus Loira (Blonde Venus, 1932) mostrava Marlene dividida entre sua carreira nos palcos e o amor pelo marido doente, pelo filho, e por um político vivido por Cary Grant. A famosa cena de Marlene disfarçada de macaco cantando Hot Voodoo foi referenciada no filme Os Sonhadores, de Bertolucci.

Bem, mas focando agora de forma mais ampla nesses filmes fascinantes, quais os elementos que os caracterizam? Como o nome sugere, eles eram feitos e pensados para o público feminino em especial (claro, longe de atrair apenas as mulheres, não é mesmo?). Tratavam eles de temas como vida doméstica, família, maternidade, auto sacrifício (sempre), redenção e romance (com muitas lágrimas). Se por um lado os filmes tendessem a uma ideia machista com ‘’temas de mulheres’’, através da forma como esses temas eram tratados é que os filmes dialogavam e muito com ideias liberais e em apoio às capacidades, poderes e direitos das mulheres – dialogando com muitas ideias feministas que entrariam cada vez mais em voga, até chegar aos dias atuais.

Trailer de Now Voyager: Bette Davis no auge de sua carreira foi uma das musas dos women's pictures


A historiadora em cinema Jeanine Basinger aponta três pontos-chave nesses filmes de mulheres. Primeiramente, como já foi dito, os filmes centram a mulher como o eixo do plot, em contraposição aos filmes predominantemente masculinos, nos quais elas são excluídas ou deixadas em segundo plano em boa parte – aqui ocorre o inverso! As mulheres são o centro, mas ainda assim os homens em geral são peças cruciais em suas histórias. O segundo ponto é um tanto discutível: que o melhor papel da mulher é ‘’ser mulher’’, e que o ideal de amor é a melhor carreira que ela pode seguir (mas não a única). O terceiro ponto é a possibilidade de liberação da mulher, seja no amor, na carreira, ou na rejeição do papel tradicional de mulher. Assim, geralmente caberá a mulher tomar uma decisão crucial sobre qual caminho ela decidirá seguir. Como seguir uma carreira de sucesso ou escolher viver um grande amor.

Auto sacrifícios desde sempre: em Midnight Mary (1933) Loretta Young como uma pobre moça na era da Depressão passava pelos maiores revezes, e devido a seu passado ela não queria se envolver com seu amado, o rico advogado vivido por Franchot Tone. A Depressão era uma constante para mostrar na tela as dificuldades vividas pelo povo americano da época, homens e mulheres.


 Always Goodbye (Sidney Lanfield, 1937), puro women's pictures, Barbara Stanwyck queria reconquistar o amor do filho que abandonara e tinha que escolher entre dois homens: o que amava e o que admirava.  



A sofrida Cecilia de A Rosa Púrpura do Cairo, de Allen, sofria na mão do marido e tinha uma vida ordinária, sendo o cinema hollywoodiano sua única válvula de escape. O galã sai das telas, mas ele é ilusão: a realidade é sempre a única escolha, mas de ilusão também se vive



Para a estudiosa, o gênero se contradiz, pois acaba por vezes no status quo do que era esperado pelo senso comum da vida de uma mulher, mas ao mesmo tempo ele se liberta do lugar-comum mostrando as pequenas e grandes vitórias e conquistas das mulheres num mundo retrógrado e ainda dominado pelo machismo. Contradições e discussões à parte, é inegável o valor desses filmes como melhor exemplo de cinema, rendendo grandes filmes e interpretações inesquecíveis das atrizes, muitas delas agraciadas ao longo dos anos com os maiores prêmios da Sétima Arte. Como dizia Anna Karina em Uma Mulher é Uma Mulher de Godard, não há nada mais lindo do que uma mulher em lágrimas. E através dessa jornada na História através do cinema, podemos compreender muito mais a trajetória da mulher ao longo das décadas.



A Mulher do Dia (Woman of the Year, George Stevens, 1940) talvez seja um dos primeiros e que melhor desenvolva sobre os papéis da mulher moderna. Tess, personagem de Katharine Hepburn, é uma jornalista bem-sucedida e emancipada (como a própria Kate, sempre de calças!). Ao se apaixonar por Spencer Tracy, casando com ele, e adotando uma filha, a workaholic Tess vê seu mundo virar de ponta-cabeça. Antes uma mulher sem qualquer ligação emocional forte, ela tenta conciliar o lar com sua carreira. E essa é a grande questão do filme: ‘’a mulher do ano’’ tentando encontrar um meio-termo, longe dos extremos do trabalho ou do lar. Apesar dos tons dramáticos, o filme é uma comédia romântica muito bem feita. O filme culmina numa divertida cena de café da manhã em que Tess estraga tudo, mas ela e seu amado ficam de bem. Nenhuma mulher precisa saber fazer waffles, panquecas ou ovos com bacon para ser uma boa esposa e uma boa mãe.

Com exceção de Cary Grant, Kate quase não tinha química com nenhum de seus leading men. Tracy seria o seu par ideal, e juntos viveriam um longa história de amor fora das telas. No primeiro encontro Hepburn notou ser maior do que ele e disse ‘’Mr. Tracy, você é um pouco pequeno para mim’’. A resposta foi: ''Não se preocupe, vou reduzi-la ao meu tamanho’’. O resto é história...

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Ainda Tracy e Hepburn, A Costela de Adão tinha a guerra dos sexos como pano de fundo. Kate, tanto no filme como na vida real, foi durante sua trajetória uma mulher de espírito livre e rebelde desde criança, inspirada pela mãe sufragista. Democrata, símbolo da mulher independente e sempre de calças - Saias? perguntou Barbara Walters a ela uma vez. Só para o seu velório, querida, obg. Comentei sobre esse filme junto com Guerra dos Sexos no post sobre novelas. Clique aqui.

It Happened One Night (Aconteceu Naquela Noite, Frank Capra, 1934) é sobre uma herdeira entediada que foge da guarda do pai e esbarra com um repórter vivido por Clark Gable. Os dois vivem um road-movie, com Colbert mostrando as pernas para conseguir carona, Gable comendo cenoura, e os dois dividindo um quarto com a Muralha de Jericó separando cada lado. A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, William Wyler, 1953), com roteiro de Dalton Trumbo e contando a história semelhante da Princesa Ann, vivida por Audrey Hepburn, que esbarra e se apaixona pelo repórter ambicioso Gregory Peck, em muito lembra a história de Capra, mas vai para outro caminho. Claudette e Clark ficam juntos e a muralha de Jericó vai abaixo no fim, enquanto a futura rainha Ann abre mão de seu amor para seguir a carreira real.

''A muralha de Jericó''

Em Rainha Cristina (Queen Christina, Rouben Mamoulian, 1933, Garbo vivia Cristina da Suécia que decidiu viver seu amor por John Gilbert e abdicar do trono, mas com a morte de seu amado em duelo, a monarca decide partir num navio, com a cena final em famoso close eternizado pelas câmeras.

A câmera se aproxima cada vez mais, enquanto a heroína contempla o horizonte. O diretor instruiu Garbo para fazer de seu rosto uma folha de papel em branco, e cabe ao espectador ler nessa figura esfíngica o que ela está sentido por dentro

Em 1934, em O Véu Pintado (The Painted Veil, Richard Boleslowski), Garbo era negligenciada pelo marido e se apaixonava por um diplomata nas terras da China. Em ambos os filmes Garbo dava ousados beijos na boca em suas parceiras de cena. Garbo vivia fazendo personagens dramáticas, como a prostituta Anna Christie, e geralmente terminavam tragicamente como em Mata Hari onde terminava fuzilada. Marlene Dietrich em Desonrada também terminava com o mesmo fim.

Garbo fala, Garbo chora, Garbo ri: sempre acima do título

Um dos triunfos da carreira de Garbo, Camille (George Cukor, 1936) bebia da fonte do romance A Dama das Camélias e tinha Garbo como a prostituta boêmia que se sacrificava em favor do amado, abrindo mão do mesmo para não levá-lo a ruína junto com ela, cada vez mais adoentada. No fim, ela morre em seus braços

LONGA JORNADA MELODRAMA ADENTRO


Vimos que nos anos 30 esse tipo de filme já estava sendo feito, não propriamente um gênero ainda, ou com filmes que estavam rodeando suas temáticas comuns, mas seus maiores exemplares viriam mais para o fim  da década, atingindo seu verdadeiro ápice nos anos 40 quando foram mais populares e recorrentes, principalmente protagonizados por atrizes de primeiro porte como Barbara Stanwyck, Bette Davis e Joan Crawford. Essas mulheres protagonizam os maiores melodramas, mas não brinque com elas, elas sabem se impor e colocar os homens no lugar! Bette já chegou a trollar astros como Cary Grant, dizendo que ela e Crawford comeriam ele no café da manhã se contracenassem LOL

Apenas uma prévia do quão BOSSY é nossa Joanie ♥

Deixarei para falar mais profundamente das carreiras de Bette, Missy e Joan mais para frente, mas já ficam aqui ao longo do post algumas dicas de filmes. Eu comentei um pouco sobre A Stolen Life (o filme de gêmeas com Bette Davis, que inspirou Mulheres de Areia), Stella Dallas, Mildred Pierce etc e os conectei com algumas novelas brasileiras no meu post anterior!
A estudiosa em filmes Mary Ann Doane aponta uma subdivisão dentro dos woman’s films. Seriam elas quatro divisões: o melodrama maternal, a história de amor, o melodrama médico e o melodrama gótico de paranoia.
O melodrama maternal, centrado na relação mãe e filha, como Stella Dallas e Alma em Suplício.

Posters do filme, que Barbara revelou ter dado tudo de si para fazer o papel principal

Stella Dallas – Mãe Redentora, um dos mais marcantes e lacrimosos melodramas maternais, conta a história da personagem título vivida por Stanwyck. Esse filme de 1937 é um dos maiores melodramas clássicos, e woman’s film por excelência. Dirigido por King Vidor, a mãe trabalhadora e humilde Stella Dallas, sem perspectivas de felicidade ou realização própria, vive então para a felicidade de sua filha, Laurel (Anne Shirley). Stella desperta o desprezo dos mais abastados por seu jeito brega e vulgar, porém inocente. A filha Laurel se vê entre a realidade pobre de Stella e o mundo de fortuna de seu pai, já separado de Stella. Quando Stella percebe que Laurel está apaixonada por um jovem rico do high society, e que sua presença só fará Laurel ser rejeitada, Stella sacrifica a conexão com a filha para deixar o caminho livre para o casamento dela, que então será parte daquela realidade a qual Stella nunca pertencerá. Na famosa sequência final, Stella assiste em prantos o casamento da filha de longe, e a felicidade de Laurel é o bastante para fazê-la a mãe mais realizada do mundo.

Barbara Stanwyck e Anne Shirley foram indicadas ao Oscar por suas marcantes interpretações de mãe e filha.

Em 1990 houve uma boa refilmagem da história, produzida pela Touchstone Pictures, com Bette Midler no papel de Stella.

Mildred Pierce, com Joan Crawford em seu melhor momento do cinema, é a síntese total do melodrama maternal, mesclando women’s picture com film-noir.

Mildred Pierce, a rainha do frango frito

A atmosfera é sombria, pessimista e dramática. Um assassinato ocorrera. Mildred começa o filme andando desolada por um cenário deserto, e sob sua perspectiva, descobrimos sua história através de flashbacks. A dona-de-casa se separa do marido, e para sustentar suas filhas, se torna uma garçonete. Sua filha mais nova falece, e resta apenas Veda (Ann Blyth), uma garota mimada que rejeita a mãe e a pobreza em que vivem. A rivalidade entre mãe e filha é o centro da trama.



Especialmente para conquistar a filha, Mildred se torna uma mulher de negócios ao abrir um restaurante, e se casa com um homem de status que não ama, apenas para atrair Veda para si, pois é apenas status, dinheiro e um lugar na alta sociedade que Veda almeja. Veda se envolve com o marido da mãe, e rejeitada pelo mesmo, ela o mata com um tiro. Mildred pode salvar a filha da prisão, mas depois de ter sido humilhada e pisada a vida inteira por essa garota, ela decide largar a filha à própria sorte, finalmente, e seguir em frente.


Separada e com duas filhas, Mildred Pierce era uma mãe que lutava para sobreviver na Era da Depressão americana. O filme difere do romance de James M. Cain em alguns aspectos da história. Como bom produto de Hollywood, o filme é mais fantasioso e exagerado - no bom sentido. Diferente do livro, o filme incorpora o mistério do assassinato e os flashbacks que dão tom noiresco que casa muito bem com a história. No romance, Veda tenta tocar piano por muito tempo, até que larga de vez o instrumento - ela vira uma soprano de sucesso, mas apunhala a mãe pelas costas ao se envolver com seu marido. Mildred a estrangula até ela perder a voz. Veda não vai presa no livro nem nada, mas vai para longe, e Mildred, primeiramente desolada pelo fracasso de sua relação com a filha, no fim dá de ombros e fala ''To Hell with Veda''. Vida (rs) que segue...

O adeus final

Indo além das mães, temos os melodramas românticos, as love stories. Jezebel (William Wyler, 1938) é a quintessência dos women’s pictures. Talvez a resposta da Warner Brothers ao E O Vento Levou… (Gone With the Wind, Victor Fleming e George Cukor, 1939) um ano antes, o filme conta o drama da Southern Belle Julie, vivida por Bette Davis. Diferente do épico do ano seguinte, o melodrama foca no romance da personagem de Davis com Henry Fonda, e com seu espírito rebelde querendo desafiar as convenções da época, no conservador Sul dos Estados Unidos do século XIX. A melhor prova disso é na famosa cena do baile, onde Julie surge no salão vestindo vermelho, enquanto todas as moças estavam de branco. Ao longo da dança, todos se afastam de Julie. A rebeldia de Julie lhe custa o amor e a influência na sociedade, e seu momento de redenção fica na parte final, com seu sacrifício em nome de seu amado.


As mulheres dos woman’s film poderiam ser boas ou más, comuns ou extraordinárias - ou até comuns que se tornam extraordinárias, como percebemos em alguns filmes já discutidos. As belas sulistas de Jezebel e E O Vento Levou… são extraordinárias. Scarlett O’Hara é até hoje uma das maiores (anti)heroínas do cinema, interpretada por uma extraordinária atriz: Vivien Leigh. Não há quem assista a esse filme sem se envolver com a personalidade de Scarlett, seus dramas, conflitos, sua evolução ao longo das horas de projeção. Rhett Butler se vai, mas amanhã é outro dia, e novamente ela vai encontrar um caminho através da terra, sempre a terra, a sua terra adorada, o seu lar: Tara.

Scarlett O'Hara: rainha e dona da empresa cinema ltda.


Kitty Foyle - subtitulado ‘’The Natural History of a Woman’’ (Sam Wood, 1940), também é puro women’s picture. Ginger Rogers faz magia com esse papel em suas mãos: dá charme e carisma à personagem, uma mulher comum que se torna inspiradora. Por maiores as tristezas que vive, Kitty Foyle segue em frente, e como toda mulher dos women’s pictures, terá que fazer uma decisão.

No Oscar de 1941, quando a cerimônia ainda valia a pena, Jimmy Stewart com seu Oscar por Núpcias de Escândalo, e Rogers por seu Oscar por Kitty Foyle. Os dois trabalharam juntos anos antes na comédia Vivacious Lady

A película começa com Kitty indecisa entre aceitar o pedido de casamento de Mark (James Craig), ou fugir com o rico e casado Wyn (Dennis Morgan), pelo qual foi apaixonada a vida inteira, mas ele jamais teve a coragem de assumi-la ou desafiar sua família por ela ser de classe social mais baixa. Então em flashbacks conhecemos sua história: sua origem humilde, seu trabalho como secretária em Nova York, as idas e vindas com Wyn e romance ao som de Night and Day (a mesma música que Ginger tinha dançado com Fred Astaire em A Alegre Divorciada!), Wyn se casando com outra mulher e não abrindo mão do status, Kitty tendo um filho dele que nasce morto - numa cena de partir o coração, através da expressão de Ginger não se precisa de cena de choro, a expressão desolada diz tudo. Anos depois, já de volta ao presente, com quem Kitty escolherá ficar: Wyn ou Mark? Kitty Foyle foi um sucesso e rendeu o Oscar de Melhor Atriz para Rogers, mostrando seu talento dramático e sambando em quem a via apenas como parceira de Fred Astaire.

Em entrevista anos depois, Ginger revela que se tivesse de escolher um dos seus filmes para a posteridade, seria Kitty Foyle, para mostrar a realidade da vida da mulher da época. O vestido de gola branca, no estilo do que Rogers usa no filme, até hoje é conhecido como ''Kitty Foyle dress''.

Primrose Path (Quero Ser Feliz , Gregory La Cava), no mesmo ano, trazia Ginger novamente num papel forte. Ellie Mae, sua personagem, era filha e neta de prostitutas, vivendo uma realidade pobre e sem esperanças, mas ainda assim relutando em seguir a mesma vida das mulheres da família. Ela conhece e se apaixona pelo personagem de Joel McCrea, e se casa com ele, porém esconde o background da família. Quando o bom moço descobre, ele a abandona, e sem perspectivas, a prostituição parece sua única saída. Mas ela não deixará barato para o ex quando o reencontrar, sob outras circunstâncias. Outro filme que merece ser visto!

''Quero Ser Feliz'' - ela consegue no final?

O papel de Kitty Foyle havia sido recusado por Katharine Hepburn. Kate e Ginger, que nunca foram muito uma com a cara da outra, estrelaram anos antes o excelente filme Stage Door (No Teatro da Vida, 1936), também de Gregory La Cava, que era sobre um grupo de aspirantes a atrizes que viviam juntas numa pensão, dividindo suas experiências e dramas. Esse tipo de filme sobre aspirantes a atrizes e toda a batalha pelo sucesso era bem recorrente na Old Hollywood, como Kate havia feito em 1932 com Manhã de Glória (Morning Glory, Lowell Sherman, 1933) - o primeiro de seus quatro Oscars - ninguém bateu seu recorde de prêmios ma categoria até hoje.

Depois, outra atuação primorosa de Kate foi em Alice Adams (A Mulher que Soube Amar, George Stevens, 1935), como uma moça humilde que sonhava com a ascensão social. No mesmo ano, Bette Davis venceu seu primeiro Oscar pelo retrato duma atriz sofredora em Perigosa (dir. Alfred E. Green, abaixo)


Casada mas apaixonada por Franchot Tone, Bette tem a reputação de mulher perigosa e egoísta, mas seu auto-sacrifício final provará o contrário em Dangerous

A aspirante à atriz Janet Gaynor fica encantada com o Chinese Theatre de Hollywood, e se deslumbra com as mãos de Jean Harlow no cimento. De comum para extraordinária - de Esther Blodgett para Vicki Lester, a caminhada para o sucesso da jovem sonhadora de Nasce uma Estrela (William A. Wellman, 1937), mais tristezas do que alegrias. Seu grande amor, um antigo astro das telas, afunda na bebida e se suicida, mas depois da fossa ela decide levantar a cabeça e enfrentar o que estiver por vir. O filme foi refeito com Judy Garland e Barbra Streisand.

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Hollywood já nas suas primeiras décadas já produzia dramas sobre o gosto amargo da glória. What Price Hollywood (George Cukor, 1932), antes de Nasce uma Estrela, já trazia uma história semelhante de uma simples garçonete que ascendia ao sucesso nas telas, enquanto o produtor alcoólatra afundava cada vez mais. 

Baseado na vida de Ruth Gordon, A Atriz (Cukor, 1953) tinha Jean Simmons como uma aspirante a atriz em uma séries de vinhetas com a família e os amigos da sua cidade, e o embate com o pai marinheiro vivido por Spencer Tracy que não aceita a carreira da filha.

Voltando às Love Stories, um representante de peso: Carta de uma Desconhecida (Letter from An Unknown Woman, Max Ophüls, 1948). Numa linda e triste história de amor passada na Viena de 1900, o pianista decadente Stefan (galante Louis Jourdan) recebe a tal carta de uma desconhecida que dá nome à história: ela é de Lisa (graciosa Joan Fontaine), mulher à beira da morte que foi apaixonada a vida inteira pelo pianista, mas o homem nunca a reconheceu de fato. Os anos se passaram, e mesmo tendo passado noites de amor com Stefan, ele sempre a deixou e com o tempo a esqueceu. A leitura da carta suscita os flashbacks de volta a todos os momentos dos dois, em especial a paixão platônica de Lisa, que nunca foi retribuída de fato, mas durante os anos houve momentos de paixão, os quais Lisa jamais esqueceria.  Prepare seu coração: esse filme é daqueles que a gente nunca esquece.

Louis Jourdan e Joan Fontaine na obra-prima do diretor Max Ophüls, consagrado pelas produções luxuosas, histórias de amor e protagonistas femininas

Perdidamente Tua (A Life of Her Own, George Cukor, 1949) é um ótimo melodrama estrelado pela rainha do dramão Lana Turner. Vinda de origem humilde e já passado por experiências difíceis, sua personagem Lily James decide vencer no universo cosmopolita da moda e se torna uma modelo de sucesso, mas sua carreira não traz a felicidade que sonhara. Se apaixona por um homem que não tem coragem de abandonar sua esposa inválida, o que a frustra, mas longe dela querer destruir lares. Vê casos de outras modelos como ela que terminaram usadas e sem ninguém. Arrasada, a depressão e até o suicídio passam por sua cabeça, mas a moça prefere seguir em frente, firme e forte, por mais solitária que sua vida acabe sendo.


As peripécias de Lana como Lily James



O Destino vem com tudo entre os amantes solitários de Jane Wyman e Van Johnson no drama romântico Miracle in the rain (Rudolph Maté, 1956), passado durante a Segunda Guerra. Romance, lágrimas, sofrimento e redenção nesse clássico esquecido. O filme é meio uma mistura de The Clock (Vincent Minnelli, 1946, que comentei no post sobre a Judy Garland) com A Guy Named Joe (Victor Fleming, 1943).



Dando uma espairecida pra tanto drama, As Três Noites de Eva (The Lady Eve, Preston Sturges, 1941) é uma comédia espirituosa onde Jean (Barbara Stanwyck) decide se vingar do cientista Henry Fonda que a abandona após descobrir que ela é uma vigarista. Agora se passando como uma dama da sociedade, Lady Eve, ela abocanha novamente o ingênuo herdeiro , que a pede em casamento. Na noite de núpcias, ainda como Lady Eve, ela se vinga e revela que já teve muitos amantes e um passado tórrido, aterrorizando o rapaz ,que foge. Ao reencontrar Jean, já vingada, ele se declara para ela e os dois enfim selam a união - ele jamais nota que Lady Eve e Jean são a mesma pessoa.

Barbara Stanwyck é amor à primeira vista e um caminho sem volta

Alguns bons achados na extensa e prolífica filmografia da Missy. Em My Reputation (1946), Stanwyck é uma viúva que redescobre o amor, mas põe sua reputação em risco. Em The Gay Sisters (Irving Rapper, 1942), três irmãs perderam os pais e cuidam de sua mansão na Quinta Avenida por si próprias, Stanwyck com mãos de ferro (será que George Brent conseguirá conquistá-la?). E A Orquídea Branca (The Other Love, André de Toth, 1947), uma love story com medical melodrama, trazia a atriz como uma pianista seriamente doente que ao invés de seguir os conselhos do médico David Niven, ia atrás de romance com o charmoso Richard Conte.

O ‘’paranoid gothic melodrama’’, por sua vez, engloba as histórias mais macabras e soturnas, geralmente de suspense, thriller, ou transitando levemente no terror. As mulheres ficam desconfiadas do comportamento de seus maridos, pairando uma aura de mistério.

Em O Segredo Atrás da Porta (Secret Beyond the Door, Fritz Lang, 1947), Joan Bennett se casa com o homem ideal e tudo parecia um conto de fadas. Mas os mistérios da casa passam a assombrar a moça. Fritz Lang sempre vale o ingresso, e esse é um suspense muito envolvente.

Rebecca (Alfred Hitchcock, 1940, que comentei no post anterior ao comparar com a novela A Sucessora), Suspeita, também do Hitch, e Sleep My Love (que também comentei no post das novelas - é um Gaslight wannabe competente) também são exemplos desses melodramas góticos centrados numa personagem feminina.


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Joan Fontaine era tratada mal por Laurence Olivier e Hitchcock (!) para dar mais veracidade ao drama da jovem amedrontada com a fantasmagoria de Manderlay assombrada pela presença da antiga senhora da casa - Rebecca. O que seu marido esconde dela?

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Mistura de suspense com intriga de irmãs gêmeas, o thriller com ares de expressionismo The Dark Mirror trazia Olivia de Havilland em dose dupla! Quem é quem? Robert Siodmark também dirigiu os noirs inesquecíveis Os Assassinos, Baixeza, A Dama Fantasma (com Ella Raines como a detetive), e o ''woman in distress'' noir The Spiral Staircase (abaixo).

Parênteses: Ainda em Olivia de Havilland, Só Resta Uma Lágrima (To Each His Own, 1946) , dirigido pelo também esquecido e talentoso Mitchell Leisen, é um dos melhores exemplares de melodrama feminino dos anos 40, estrelado pela maravilhosa e resplandecente Olivia de Havilland. Comentei brevemente sobre ele e também The Snake Pit no meu post que comentava sobre a carreira da atriz, que pode ser lido aqui.



Simone Simon é uma jovem sérvia misteriosa que se transforma em pantera quando excitada. Preocupado, seu noivo chama um psiquiatra para desvendar seu caso em Sangue de Pantera (Cat People, Jacques Tourneur, 1942)



Prepare-se para pirar junto da protagonista: Precipícios D’Alma (Sudden Fear, David Miller, 1952), com Crawford, é um excelente ‘’woman-in-distress’’ noir com a bem-sucedida mulher casando com um psicopata que quer matá-la. Tensão do começo ao fim.


Stanwyck strikes again como uma mulher com Uma Vida por um Fio (Sorry Wrong Number, Anatole Litvak, 1948) presa a uma cama e com apenas o telefone do seu lado

Os ‘’medical melodramas’’ são centrados numa protagonista mulher com distúrbios psicológicos, transitando entre loucura, depressão, histeria e amnésia, e geralmente sua história é narrada a um doutor que irá ajudar em sua recuperação. Fogueira da Paixão (ou já traduzido por aí como PAZ PARA LUIZA KKKKKKKKK) com a musa Joan Crawford é o melhor exemplo desse tipo de melô. Catatônica, Crawford caminha perdida pelas ruas e grita ‘’David! David!’’.  A moça é levada até o hospital, e através de flashbacks (no maior estilo Noir psicológico), conhecemos sua história e seus problemas psicológicos e sentimentais, agravados por não ser correspondida pelo seu grande amor. Um dos melhores filmes da Joan na Warner - melhor fase de sua carreira. Diretor de muitos dos melhores Women’s Pictures, Curtis Bernhardt é mais um cineasta clássico que merece mais valor.


Don't fuck with me, fellas

A atriz ficou arrasada por sair da MGM, mas convenhamos, na Warner ela teve seu melhor momento, vide esse filme, Mildred Pierce, e outros como: Acordes do Coração (mais voltado para o personagem de John Garfield do que dela, mas um lindo romance); Um Rosto de Mulher (A Woman’s Face, George Cukor, 1941), mais um excelente veículo de Crawford como uma chantagista de rosto deformado que vê a oportunidade de corrigir sua desfiguração - e o seu caráter; Os Desgraçados Não Choram (The Damned Don’t Cry, Vincent Sherman, 1950), noir dominado por Joan como uma mulher que resolve vencer no mundo dominado pelos homens, se envolvendo logo com três que mudarão a sua vida.



Humoresque (a bela sequência no mar) e Os Desgraçados Não Choram (''Call me cheap?''): dois dos melhores filmes de Crawford na Warner



As mil e uma faces de Joan em Um Rosto de Mulher

Já Bette Davis em 1939 estrelou o drama destruidor Vitória Amarga (Dark Victory, Edmund Goulding, 1939), onde interpretou a herdeira mimada e inconsequente que descobria ter um tumor no cérebro e pouco tempo restante de vida. Sabendo que lhe resta pouco tempo, a jovem conhecerá o amor com o seu médico, vivido por George Brent, e saberá viver seus últimos dias com dignidade, sem pena de si mesma, rumo à morte sem medo. A atuação tearjerker é um dos highlights da carreira de Davis. Perfeccionista ao extremo, essa foi uma das poucas performances com que a atriz se sentiu satisfeita com o resultado.



Davis em momento de glória ao lado de sua companheira de cena e amiga pessoal Geraldine Fitzgerald. Tão convincente, a atriz parece ter criado um borrão em seu campo de visão para a cegueira da sua personagem à beira da morte

Mulher Caluniada (Dishonored Lady, Robert Stevenson, 1947), estrelado pela musa Hedy Lamarr, é creditado como noir, mas tem mais ares de melodrama feminino. Hedy vive uma editora de moda bem-sucedida durante o dia, e uma mulher baladeira e causadora às noites, o que lhe renda uma má reputação. Ela chega a um colapso, e através da ajuda de um psiquiatra, decide ir atrás de uma vida mais humana e mais digna, longe do status, para enfim conhecer a si própria. Ela se apaixona por um simples artista na pensão que passa a morar, fugindo dos seus conhecidos, mas um homem do seu passado e sua consequente morte por assassinato colocarão o destino da moça em risco.





A Mulher que Não Sabia Amar (Lady in the Dark, Mitchell Leisen, 1944) com Ginger Rogers trazia a atriz no papel de uma mulher perturbada por sonhos e alucinações, contando com a ajuda de seu médico para fazê-la entender o que se passava em sua mente. Com momentos até musicais, poderia chamar esse filme de ''musical psicológico'' Lol


Num remake mais contido dum pre-code antes feito com Ann Harding e Myrna Loy, Crawford e Garson se encontram para discutir homens, amor e casamento em De Mulher para Mulher (marisaaaaaaaa).


Johnny Belinda, outro lindo ‘’novelão’’ da Old Hollywood sobre os dramas de uma jovem surda-muda - que eu citei no meu post sobre a cultura do estupro. No ano anterior, Loretta Young viveu a protagonista de Ambiciosa (The Farmer’s Daughter, 1946), também agraciada com o Oscar de Melhor Atriz, que ia da fazenda ao serviço doméstico, romance com Joseph Cotten e até a política.

Now Voyager, excelência dos women’s pictures e um dos mais belos filmes da história do cinema, talvez seja uma mescla do drama médico com love story. Patinho feio e deprimida no começo da história, Charlotte Vale passa por uma transformação interior e exterior, e sua vida muda com a presença de dois homens em sua vida: o envolvente médico de Claude Rains responsável por seu tratamento, e o galã de Paul Henreid (sempre com seus cigarros) que a faz conhecer o amor pela primeira vez. Junto com ele, ela conhece a filha dele, Tina, despertando novos sentimentos na moça. A mãe tirânica de Charlotte é um fantasma em sua vida, que aos poucos a moça sabe contornar e sair de sua sombra. Mesmo com o fim da película, ainda haverá obstáculos para a total felicidade do casal Davis e Henreid, mas por que pedir a lua se eles têm as estrelas? Não importa, Charlotte está decidida a construir sua felicidade.





Bette Davis foi sem dúvida uma das grandes estrelas dos women’s pictures, e soube interpretar não só vilãs, mas também mocinhas sofridas cheias de personalidade. Sua carreira, principalmente dos anos 40 e 50, está recheada de melôs da mais alta qualidade.

Um pouco antes, em 1937, Bette protagonizou um de seus maiores dramalhões ever com Cinzas do Passado (That Certain Woman, Edmund Goulding). A mocinha sofrida de Bette vivia uma paixão com Henry Fonda, mas o pai dele rejeitava a relação e anulava o casamento dos dois, sem saber que Bette estava grávida. Criando seu filho sozinha, Bette e Henry anos depois pareciam poder ter um futuro juntos finalmente - até que ele surge em cena com sua esposa, inválida numa cadeira de rodas. Mais auto-sacrifícios, lágrimas e fossa em Monte Carlo à vista! O filme era um remake de The Trespasser, com Gloria Swanson, de 1929 e do mesmo diretor.


Anita Louise, como a sofrida esposa inválida, era um obstáculo para a felicidade do casal

Na França do século XIX de Tudo Isto e o Céu Também (All This and Heaven Too, Anatole Litvak, 1940), Bette era a governanta de bom coração que se apaixonava pelo duque Charles Boyer, mas entre eles havia a ciumenta duquesa esposa dele. Escândalo, tragédia, amor proibido e o drama de uma mulher que não pode fugir de si mesma.



A felicidade nunca vem numa bandeja para essas mulheres


Tchaikovsky, barracos e intrigas num duelo entre duas mulheres. A Grande Mentira (The Great Lie, 1941) é memorável pela rivalidade das personagens de Davis e Mary Astor, que disputavam o amor do mesmo homem. Astor venceu o Oscar de Atriz Coadjuvante pela sua atuação como a pianista rival de Bette.


O filme ainda trazia uma questão meio Barriga de Aluguel: quem tinha mais direito sobre a criança a qual Mary dava a luz - ela, a mãe biológica, ou Bette que havia cuidado da criança até então?


Aos que achavam que Joan Crawford era o único feud da vida de Davis, não esqueçam Miriam Hopkins. Casamentos, romance, tretas, maternidade, lágrimas e auto-sacrifício: The Old Maid (Eu Soube Amar, 1939) é puro woman’s film. E em Uma Velha Amizade (Old Acquaintance, Vincent Sherman, 1943), Bette e Miriam faziam duas velhas amigas, diferentes como a água e o vinho. Mas rivalidade, desentendimentos e homens vão fazer as duas colocarem lenha na fogueira, com direito à famosa cena que Bette sacode Miriam até quase fazê-la perder os sentidos. O filme, baseado em peça de John Van Druten, foi refilmado por George Cukor em 1981 com Jacqueline Bisset e Candice Bergen, intitulado Ricas e Famosas.  



A sacudida de Davis em Hopkins. Miriam tentava roubar a cena constantemente, enquanto Bette havia se envolvido com o marido da atriz, o diretor Anatole Litvak

Bisset e Bergen em Ricas e Famosas: refilmagem de Cukor, o último filme de sua longa carreira. O diretor morreria em 1983


Seguindo uma linha semelhante, mas indo em outra direção, o bonito drama Amigas para Sempre (Beaches, Garry Marshall, 1988) acompanha a amizade de infância de Hillary (Barbara Hershey), uma advogada de família rica, e CC Bloom (Bette Midler), a ruiva talentosa que sonha em ser uma cantora de sucesso. Através dos anos, sempre juntas, elas passam pelos momentos mais alegres e tristes.






O que poderia ser um simples filme de mulher vira ouro nas mãos de Bette Davis. Em Vaidosa (Mrs. Skeffington, Vincent Sherman, 1944), Fanny Skeffington é a mulher mais linda de Nova York e não mede esforços para manipular todos com a sua beleza, mas o que será de Fanny ao perder o seu mais valioso atributo?




‘’Uma mulher é bonita quando ela é amada. Apenas assim.’’

Melodrama com ares de Noir (quem disse que o Noir era só dos homens e as mulheres eram só femmes fatales?), Que O Céu A Condene (Deception, Irving Rapper, 1946), a professora de piano vivida por Davis se surpreende com o retorno de seu amado Paul Henreid, que supostamente havia morrido. Mas ele não sabe que ela estava já envolvida com o egocêntrico compositor Claude Rains, que passa a ameaçá-la. A morte do compositor parece ser a única saída para o seu impasse. No final do filme, uma mulher fala que a professora de piano é a mulher mais feliz do mundo - será mesmo?


Deception



Os sonhos de amor caem por terra quando Bette descobre que seu amado quer se tornar padre em Encontro de Inverno (Winter Meeting, Bretaigne Windust, 1948).


Elas também eram professoras, e através do conhecimento, podiam construir um futuro melhor para os alunos. Como a professora determinada de O Milho Está Verde, encarnada nas telas por Davis e Hepburn, ou Claudette Colbert no patriota Remember the Day (Henry King, 1941, abaixo).



A década de 40 foi um marco na vida das mulheres pois, com a Guerra, elas ficaram a cuidar não só do lar mas indo ao trabalho. Quando os homens voltaram, viram um país totalmente mudado, com mulheres expandindo seus horizontes - como pode ser visto no filme-ultimato do Pós-Guerra americano em Os Melhores Anos de Nossas Vidas (The Best Years of Our Lives, William Wyler, 1946 - abaixo). E Hollywood acompanhou gradativamente essa evolução do universo feminino.


O retorno dos soldados promovia as maiores emoções no filme de William Wyler, com elenco de estrelas

Rosa de Esperança (Mrs. Miniver, William Wyler, 1942) era um retrato da vida na Segunda Guerra Mundial sob diferente perspectiva: através da mulher de família britânica vivida por Greer Garson, e os esforços seus e de toda sua família para superar as adversidades da Guerra. Os homens iam à guerra e Mrs. Miniver, o eixo da família, ficava sozinha em casa, encarando de frente um piloto alemão armado que termina ferido no jardim de sua casa, ou sacudindo a poeira quando parte da sua casa vai abaixo. A radiante Greer Garson resplandeceu nas telas do cinema e venceu o Oscar daquele ano, recebido com um discurso de cinco minutos e meio - a história de que durou uma hora é mito, mas ainda assim, é o discurso mais longo da história da Academia, acreditem.


Walter Pidgeon e Greer Garson em Rosa de Esperança, retrato do período ''mais sombrio, porém, mais nobre de uma nação''. Os dois atores estrelaram oito filmes juntos

Greer foi uma das maiores bilheterias dos anos 40. Após seu longo discurso, a Academia passou a ter limite de tempo para as falas dos vencedores. A atriz já havia emocionado plateias com sua performance no drama biográfico Flores do Pó (Blossoms in the Dust, Mervyn LeRoy, 1941 - abaixo), contando a história de Edna Gladney, uma mulher que batalhou pelos direitos das crianças ilegítimas, abrindo um orfanato para elas e lutando contra o preconceito. E a artista ainda encarnaria a famosa cientista Marie Curie nas telas.






Mas o melhor filme da carreira da atriz talvez seja Na Noite do Passado (Random Harvest, Mervyn LeRoy, 1942). A protagonista de Garson faz um dos maiores sacrifícios pelo seu amor, Ronald Colman. O homem perdeu a memória durante a Guerra, e esqueceu da vida a dois com Greer. Ela não pode contar a ele quem é - isso o traria um choque fatal. Então ela se torna sua secretária, e tenta reconquistá-lo, na esperança de que um dia o seu amor recupere a memória. 


O marido foi à guerra, e Claudette Colbert, sozinha, tinha que cuidar do lar, das duas filhas (Jennifer Jones e uma amadurecida Shirley Temple) e dos inquilinos durante a Guerra em Desde Que Partiste (Since You Went Away, John Cromwell, 1944).

E quem disse que as mulheres não iam à Guerra também? Um bom filme de guerra esquecido, cheio de momentos de tensão, Cry Havoc (Richard Thorpe, 1943) mostrava um grupo misto de enfermeiras em missão durante a Segunda Guerra. Elenco central inteiramente feminino, as mulheres compartilham experiências e esforços para resistir ao conflito cada vez mais duro, culminando num dramático desfecho para todas.



Margaret Sullavan, Ella Raines, Ann Sothern, Joan Blondell, Marsha Hunt, Fay Bainter e agregadas em Cry Havoc


Ainda na mesma linha de guerra, o esquecido filme com poderosas atuações do trio feminino protagonista: Claudette Colbert, Paulette Goddard e Veronica Lake em A Legião Branca (So Proud We Hail, Mark Sandrich, 1943) - por favor, assistam porque é maravilhoso. Claudette estrelou muitos dos melhores filmes clássicos da Segunda Guerra Mundial. Em Three Came Home (Negulesco, 1950), Colbert dava vida às memórias de Agnes Keith, mulher presa com o filho no campo de prisioneiros dos japoneses.



Kay Francis, Carole Landis, Martha Raye e Mitzi Mayfair entretinham os soldados no musical da Fox Four Jills in a Jeep (1944). 



Ginger Rogers dividia uma pensão com outras mulheres enquanto seus maridos iam à Guerra em Mulheres de Ninguém (dir. Edward Dmytryk). Dalton Trumbo escreveu o roteiro, acusado de comunismo por frases como ''Share, share alike'', para o horror da republicana Ginger. Filmes como esse, longe de mera war propaganda, eram bons veículos para retratar e exaltar o povo americano


My Foolish Heart (Mark Robson, 1949) foi a única história de J.D. Salinger, de The Catcher in the Rye, levada às telas - para o horror do escritor, que proibiu adaptações futuras de suas obras. Com o período da Guerra de fundo, o melodrama romântico segue as reflexões e os dramas da protagonista sofrida de Susan Hayward (magnífica como sempre - mas ela brilharia de vez em I Want to Live anos depois), às voltas com os revezes que sua vida tomou, sua tumultuada vida familiar e a paixão pelo personagem de Dana Andrews.



My Foolish Heart, de 1949, e Quero Viver! de 1958, um poderoso drama com Hayward como uma prostituta azarada que é presa e condenada à câmara de gás.


Special delivery! Ann Sothern, Jeanne Crain e Linda Darnell recebem uma carta de uma mulher que diz estar saindo com o marido de uma delas. Sem saber ‘’Quem é o Infiel’’ (Joseph L. Mankiewicz, 1949), as três reavaliam cada uma as suas vidas conjugais.


Pelo preconceito dos outros e apaixonada, Jeanne Crain esconde sua raça de origem em O Que A Carne Herda (Pinky, Elia Kazan, 1949). 



What a dump! Cansada de seu contrato na Warner Bros., Bette Davis parte para o abraço pulando do barranco para abortar o filho indesejado em A Filha de Satanás (Beyond the Forest, King Vidor, 1949). A cena foi censurada em vários países. Tendo feito o filme obrigada por contrato, o fim das filmagens foi um  alívio: ''achei que nunca fosse morrer naquele filme''. A atriz no ano seguinte faria seu melhor papel do cinema em A Malvada. 


OCASO, NOVOS TEMPOS E REINVENÇÃO


Os Women’s pictures emergem também ao estarem em oposição com os filmes comumente ‘’masculinos’’, onde os homens geralmente dominaram a cena, como os faroestes/westerns. Não seja por isso, temos filmes como Johnny Guitar (Nicholas Ray, 1954), onde Joan Crawford e Mercedes McCambridge dão as cartas.

Joan na sequência do vestido branco no piano, esperando seus inimigos. ''A man can lie, steal and even kill. All a woman has to do is slip once and she's a tramp''



Eleanor Parker, subestimadíssima, estrelou filmes poderosos durante sua carreira. Nos anos 50, foi indicada ao Oscar por sua performance arrasadora como presidiária em À Margem da Vida (Caged, John Cromwell, 1950). Mistura de drama social com Noir, a película mostrava a dura realidade das penitenciárias femininas. Em 1955, estrelou o drama biográfico musical Melodia Interrompida com Glenn Ford (abaixo), encarnando a soprano Marjorie Lawrence que sofria de poliomielite.


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Nem Parker, nem Swanson, nem Davis: Judy Holliday desbancou geral no Oscar com sua performance afiada como a loira ingênua que, com a ajuda de William Holden, provava a Broderick Crawford que não era Nascida Ontem (Born Yesterday, 1950). Mesmo célebre por fazer loiras ''burras'', Holliday tinha um QI acima da média

O drama conjugal A Cruz da Minha Vida (Come Back Little Sheba, Daniel Mann, 1952) comovia o público com Shirley Booth como uma esposa humilde, triste por ter sofrido um aborto, e pela sua cachorrinha que nunca mais voltou. Casada com um frustado Burt Lancaster, ele a culpava por seu fracasso. A chegada de um jovem casal à casa deles dará uma guinada na relação dos dois.


A Encruzilhada dos Destinos (Bhowani Junction, 1956) é um filme que merece ser visto! Ava Gardner prova seu talento na pele de uma moça mestiça atrás de sua identidade na turbulenta Índia do século XX dominada pelos ingleses, e dividida entre o amor de infância e a paixão por um oficial britânico.


Em Take Care of My Little Girl (Jean Negulesco, 1951), um dos primeiros filmes jovens anti-establishment, Jeanne Crain era uma jovem recém-chegada na faculdade. Lá ela dá de cara com o universo das irmandades americanas, de garotos e de garotas, repletas de convenções, hipocrisia, intrigas e status.



Nos thrillers, o marido inválido de Loretta Young acredita que ela e seu médico estão conspirando contra ele. Ele escreve uma carta denunciando que querem matá-lo. Loretta se mete em encrenca quando o marido realmente morre e ela pode ser presa por isso no apreensivo noir Cause for Alarm (Tay Garnett, 1951)


Com os dramas de geração e a rebeldia dos jovens, como Juventude Transviada (Rebel without a cause, Nicholas Ray 1956), os filmes mudariam de foco. Em Imitação da Vida, as duas versões foram baseadas no romance homônimo de Fannie Hurst. A versão de 1934, estrelada por Claudette Colbert e Louise Beavers, o foco estava mais no típico melodrama maternal, na história de patroa e empregada que ficam ricas com um negócio de sucesso com panquecas, e compartilham seus dramas e conflitos com as filhas.




A versão de Sirk, de 1959, brinca ainda mais com o conceito de imitação da vida quando a patroa alcança o sucesso na carreira de atriz. Em especial a versão de Sirk, o eixo está no conflito entre mães e filhas (Lana Turner e Sandra Dee que gostam do mesmo homem, e Juanita Moore e Susan Kohner como mãe negra e filha que a rejeita), o que marca o melodrama dos anos 50: conflitos geracionais, pais conservadores e filhos rebeldes.


As cores saturadas refletem o turbilhão de emoções correndo na película. Sobre a cor da sua pele, Juanita desabafa para Lana: ''como dizer à minha filha que ela nasceu para sofrer?''

E seria nos anos 50, já no período pós-Segunda Guerra Mundial, que esses filmes entrariam em seu ocaso. A censura do Código estava caindo por terra, aos poucos, findando nos anos 60. Na verdade, é nos anos 50 que a própria Era de Ouro de Hollywood também entra em seu ocaso, pois já podem ser ouvidos os ecos do que viria a ser a Nova Hollywood, com seus filmes mais modernos, ousados e transgressores. Não melhor ou pior, mas tão bom cinema quanto, os filmes romperiam gradativamente com a forma clássica de se fazer cinema.

Alguns exemplares marcantes de ‘’tearjerkers’’ dos anos 50, quando o gênero estava próximo já de seu ocaso, e assim também a Old Hollywood:

Destino Amargo (No Sad Songs for Me, Rudolph Maté, 1950), um bonito drama, tinha Margaret Sullavan como uma dona-de-casa que descobria ter câncer e apenas meses de vida. Ela decide não contar para o marido e para filha, e preparar as coisas no lar, aos poucos, antes de partir. Esse seria o canto de cisne da atriz no cinema, que morreria em 1960 aos 50 anos.



Canto de cisne de Sullavan nas telas

Do mesmo diretor de No Sad Songs for Me, Paula - Coração de Mãe (1952) era estrelado por Loretta Young, também prestes a dizer adeus ao cinema. Frustrada por não poder ter filhos, Paula um dia perde a direção do carro e fere um garoto órfão que não consegue falar. Mas ao invés de ajudar, ela foge assustada. Em seguida, com remorso, Paula decide ficar encarregada de ajudar o garoto a falar, e durante o tratamento fica cada vez mais ligada ao menino e decide adotá-lo. Uma testemunha do acidente, porém, pode atrapalhar os planos de Paula.


Paula: um dos últimos filmes de Loretta Young. A atriz, como muitos atores da Old Hollywood, se consagraria depois na televisão, com seu programa de sucesso


‘’Quando se começa a envelhecer, o tempo pode ser uma avalanche e a solidão um desastre’’. Depois da Tormenta (Payment on Demand, Curtis Bernhardt,1951), bem no estilo soap-opera, não tem novidades quanto à história, que é sobre uma mulher em processo de divórcio, com flashbacks da vida do casal. O brilho fica por conta dos ótimos diálogos e das performances de Davis e Barry Sullivan.  



Dramas domésticos: Bette Davis estrelando a novela Como Salvar o Meu Casamento

Ainda Há Sol em Minha Vida (The Blue Veil, 1951) foi também feito para as mulheres como público alvo, e para chorarem bastante, com Jane Wyman como uma pobre mulher que havia perdido marido e bebê na Guerra, e passou toda sua vida cuidando das crianças das outras pessoas. Décadas depois, sozinha e abandonada, todas as crianças que ela cuidou vão em seu socorro e demonstram sua gratidão pelo carinho que ela sempre teve pelos seus bebês.




Comédia com tons de drama e romance sobre o mundo dos negócios, e com um elenco estelar, O Mundo é das Mulheres (Woman’s World, Jean Negulesco, 1954) centrava em três esposas de executivos que iam em viagem de negócios com seus maridos. O chefe deles, um grande empresário, escolheria apenas um para ser o seu substituto. Mas o maior critério de seleção, além dos homens, era conhecer a esposa de cada um. No maior estilo ‘’a mulher faz o homem’’, cada esposa era o complemento ideal do seu respectivo marido.



Elenco estelar não deixa a peteca cair






No ótimo Sob o Signo do Sexo (The Best of Eveything, Jean Negulesco, 1959), quatro garotas viviam seus dramas e romances no mundo editorial competitivo da moda de Nova York, chefiadas por uma implacável editora vivida por Joan Crawford

Jean Simmons, recém-saída do sanatório, luta para manter a sua sanidade no drama O Direito de Ser Feliz (Home After Dark, Mervyn LeRoy, 1958). Sua paranoia será apenas coisa de sua cabeça, ou o mundo ao ser redor a está deixando louca?



É comum também a história da mulher que volta à sua cidade natal depois de anos e tem de lidar com conflitos das mais diversas ordens. Numa cidade caiçara, Stanwyck volta e se casa com Paul Douglas por conveniência, mas fica entediada e não consegue resistir à atração por Robert Ryan. De brinde ainda temos Marilyn Monroe em começo de carreira dando conta do recado. Altamente recomendado o melodrama noir Clash by Night (Fritz Lang, 1952) - aqui com o título moralizante e machista ''Só a Mulher Peca'' - Brasil é imbatível em traduções assim.
Tieta do Agreste, vivida por Betty Faria e Sonia Braga, não fica restrita ao Brasil. Em Desejo Atroz (All I Desire, Sirk, 1953), Barbara Stanwyck retorna à cidade natal dez anos depois, agora já uma famosa atriz vivida e em busca de reconciliação, mas terá que confrontar fantasmas do passado. No Japão, em 1951 e com uma história semelhante, foi filmado o primeiro filme colorido japonês: A Volta de Carmen (Karumen Kokyo Ni Karue, Keishuke Kinoshita).



Tieta à americana e à japonesa

Betty Faria e Sonia Braga encarnaram a mulher que voltava com tudo para sua antiga cidade em busca de vingança: a visita da velha senhora versão agreste brasileiro



Setsuko Hara fez história como a ''eterna virgem'' dos dramas familiares de Ozu (os dois terão posts aqui mais para frente!). Mas em Aoi Sanmyaku (Tadashi Imai, 1949), um dos clássicos nipônicos, Hara interpretava uma professora feminista que protege uma das alunas vítima dos rumores da sociedade patriarcal, balançando as estruturas do colégio de moças da pequena cidade. No mesmo ano, Setsuko estrelou a obra-prima Pai e Filha, um de seus maiores sucessos, onde com relutância a moça aceitava seu destino no casamento, longe do pai


Hideko Takamine resplandece como uma moça japonesa que almeja sua independência na estrita sociedade japonesa em Relâmpago (Inazuma, Mikio Naruse, 1952). Ainda em 52 o diretor dirigiu o drama maternal Mãe (Okaasan). Com o mesmo diretor, em Quando A Mulher Sobe a Escada (1960), Takamine viveu uma anfitriã da noite japonesa que só vê duas saídas para a chegada da idade: se casar ou abrir o próprio bar.



Prostituição era um tema recorrente, especialmente no Japão. Um ótimo exemplar melodrama é Rua da Vergonha, de Kenji Mizoguchi, (1956), ou ainda do diretor, o desolador retrato do Japão pós-guerra sob ponto de vista das mulheres, o drama Mulheres da Noite (1948, abaixo). Assim como na Europa (nouvelle vague etc) ou no Brasil (Cinema Novo), o Japão passaria por uma ''new wave'' nos anos seguintes





Giulietta Masina se cansagrou como a prostituta serelepe em busca da felicidade e cheia de esperanças em Noites de Cabíria (Fellini, 1957). E em Julieta dos Espíritos, que futuramente inspirou o Simplesmente Alice de Woody Allen, Masina é convencida por um psíquico da infidelidade do marido, e é tomada por visões surrealistas, numa atmosfera onírica típica do realizador italino




Além de tudo isso, os próprios melodramas filmados estavam lidando com uma perspectiva masculina, como pode ser notado em Chamas que Não se Apagam (There’s Always Tomorrow, Douglas Sirk, 1956), onde o personagem de Fred MacMurray é o centro da história. Casado e com filhos, mas se sentindo ignorado por todos, ele redescobre a paixão quando Barbara Stanwyck, um antigo affair, ressurge em sua vida ao som de Blue Moon. O suposto lar perfeito da família, tão vendido pelo american way of life, soa mais como uma prisão ditada pelas convenções.


Os astros e estrelas de antigamente também viram suas carreiras entrarem em declínio, ou mudarem totalmente de forma para se moldar aos novos tempos. Alguns decidiram sair de cena ou foram para o teatro ou televisão, outros topavam fazer os filmes mais insanos e baixo orçamento para continuar trabalhando, quando não conseguiam arranjar espaço para brilhar nos filmes do novo momento.



Em Lágrimas Amargas (The Star, Stuart Heisler, 1952) ~~dizem as más línguas que inspirada em Joan Crawford~~ Bette Davis interpreta uma atriz decadente que já conheceu a fama mas não consegue lidar com o ostracismo, chegando ao ápice de dirigir bêbada (oi lindsay lohan) ao lado do seu Oscar e sair correndo da polícia no meio do mato (como eu amooooooo esses chorumes). Na luta para voltar com sua carreira, ela se dá conta que o sucesso não é tudo, e que a felicidade está muito além disso, como o amor de sua filha e um ex-colega por quem ela acaba se apaixonando.

Muitos filmes que se seguiram até os tempos atuais continuaram seguindo a linha e abordando o universo feminino como os clássicos women’s pictures, apesar do termo de fato ter desaparecido de cena com os anos 60 e com o avanço da televisão com as soap-operas.
Gostaria de pontuar o quanto os anos 50 não foram esse paraíso que os amantes do vintage gostam de imaginar. Tudo bem, adoro a cultura pop, o estilo, e tantas coisas, mas vamos lembrar o quão conservador e repressor foram esses anos? O machismo, os valores hipócritas, a caça às bruxas do Macarthismo, e a mulher relegada ao lar e a assistir TV? Os anos 40 também foram pesados pois tiveram a guerra e muito mais. Myrna Loy uma vez foi questionada por alguém: ‘’o que fizeram os anos 40 serem a década mais incrível de todas’’ e ela respondeu: ‘’primeiro tivemos a guerra, depois a bomba atômica, e depois um monte de malucos procurando comunistas debaixo de nossas camas’’. Para se pensar...


Joan Crawford de meia idade e solitária no drama romântico Folhas Mortas (Autumn Leaves, Robert Aldrich, 1956). A paixão por um rapaz mais jovem também não será apenas flores - atenção no cosplay da cena da praia famosa de From Here to Eternity (abaixo).





Todo drama, toda emoção, no conforto da sua casa! O inesquecível close de Jane Wyman refletida num aparelho de televisão em Tudo o que o Céu Permite, de Sirk ‘’príncipe do melodrama’’. Viúva e apaixonada pelo seu jardineiro, anos mais jovem, ela enfrenta a opinião da pequena cidade e dos filhos, bem anos 50. Será que ela preferirá o conforto da sua sala vazia com TV ao amor de Rock Hudson? Comentei um pouco sobre esse filme inesquecível no post das novelas.  



Anos depois, Fassbinder na Alemanha beberia muito da fonte sirkiana para fazer filmes como O Medo Devora a Alma (1974; que muito lembra Tudo o Que o Céu Permite), e seus dramas femininos autorais e memoráveis. Quero falar mais do diretor e do cinema europeu numa outra oportunidade.


Desconstruindo as ilusões do cinema e o sentimentalismo, Luchino Visconti em Belíssima (1951) filma a grande Anna Magnani como uma mãe pobre que faz de tudo para a filha ser uma estrela de cinema

Madame X (David Lowell Rich, 1966) é considerado um dos últimos melodramas do cinema clássico. A atormentada protagonista vivida por Lana Turner, em uma de suas melhores performances, passa por todos os dramas possíveis, chegando à degradação, sem nunca esquecer do filho que foi obrigada a abandonar. No tribunal prestes a ser condenada por assassinato, ela e o filho já crescido se reencontram - ele a defenderá. Esse novelão foi a terceira versão da história levada às telas, após a de Ruth Chatterton em 1930 e nos anos 40.



Há ainda nos Women’s Pictures, de outrora e dos mais modernos, os ditos filmes de viagem: quando as mulheres, aborrecidas pela rotina diária e sedentas por viverem aventuras dignas dos romances que adoram, viajam para terras estrangeiras.                                                                                 .
Ainda na Golden Age, temos exemplares de peso. Quando o Coração Floresce (Summertime, David Lean, 1955) é uma deliciosa aventura romântica por Veneza que qualquer pessoa gostaria de viver, com Kate com uma turista americana solitária que anseia por romance e joie de vivre.



E eis que surge o bonitão italiano - o vermelho do vaso é a cor do desejo. Katharine Hepburn recusou dublês e se jogou de verdade no canal da cidade, pegando uma infecção.


Sinfonia Interrompida (Interlude, Douglas Sirk, 1957) tem a adorável June Allyson dividida entre um amor comum e o charme irresistível do italiano Rossano Brazzi. Parece que as mocinhas nunca podem realizar suas fantasias, que no fim são irreais, após uma tumultuada temporada na Europa elas têm que voltar ao cotidiano trivial. Mas as viagens sempre promovem uma espécie de autoconhecimento.







A Itália é sempre um ponto turístico dos sonhos, como para as americanas sonhadoras de Candelabro Italiano (Rome Adventure, Delmer Daves, 1962) e A Fonte dos Desejos (Three Coins in the Fountain, Jean Negulesco, 1954), e mais recentemente em Sob o Sol da Toscana (Under the Tuscan Sun, Audrey Wells, 2003).

A Fonte dos Desejos: L'amore entre Maggie McNamara e Louis Jourdan


Final de Roman Holiday : não importa o que aconteça, Audrey nunca esquecerá daquela viagem. E Peck também


Na década de 80, os filmes de viagem alcançaram a União Soviética e a Grécia com os emocionantes Letter to Brezhnev (1985) e Shirley Valentine (1989).

Os thrillers O Bebê de Rosemary e Repulsa ao Sexo (gif), de Roman Polanski, por que não, podem ser uma leitura moderna de terror psicológico do ‘’paranoid gothic’’ rondando as perturbadas personagens de Deneuve e Farrow.


Baseado no romance de Mary McCarthy, The Group (Sidney Lumet, 1966) lidava com temas delicados como amor livre, aborto, homossexualidade e alienação mental com esse grupo de oito mulheres amigas de NYC.


Barbara Parkins, Sharon Tate e Patty Duke são as três jovens que tentam a sorte no mundo do showbusiness de Nova York e passarão pelos maiores dramas possíveis no cult classic O Vale das Bonecas (Valley of the Dolls, Mark Robson, 1967).



Vermelho é a cor da alma. Na Europa, com outras abordagens, Gritos e Sussurros de Bergman é apenas um exemplo de filmes sobre a alma feminina - e universal - sendo feitos em outros cantos do globo. Através de suas musas como Liv Ullmann e Harriet Andersson, o diretor arrancava profundos estudos sobre a alma humana, longe de comover apenas o sexo feminino. Mas Bergman filmando Liv Ullmann, assim como Antonioni filma Monica Vitti ou Rossellini filma Ingrid Bergman, estaria mais para cinema de silêncio do que de lágrimas


Monica Vitti em busca de um alento em meio à incomunicabilidade de A Aventura


Grávida, no limiar da vida e da morte no vulcão Stromboli, que batiza o filme. Ingrid Bergman virou persona non grata nos EUA ao se envolver com Rossellini e partir com ele para a Itália. Na trilogia que fez com o diretor, a atriz fazia mulheres complexas , sitiadas por realidades inóspitas e dilemas dramáticos, casando um pouco com sua própria realidade do momento. A atriz voltaria para a América sambando, vencendo o Oscar por Anastasia

Vermelho também cor do amor e do desejo. Com as inspirações mais diversas, Almodóvar cria seu cinema mistura de melodrama com momentos leves de comicidade, sempre com cores vibrantes e mulheres fortes, vide Tudo Sobre Minha Mãe, Volver, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos e assim por diante. Esses diretores todos serão melhor abordados mais para a frente, mas não poderia deixar de citar.


Ao longo do tempo, no cinema muitos filmes familiares seriam feitos, mas não com a mulher como eixo central da trama, como Kramer vs Kramer (1979), também um grande filme mas que trabalhava com a figura paternal de Dustin Hoffman, ou o drama familiar oscarizado Gente como a Gente (Ordinary People, 1980). Laços de Ternura por sua vez tinha uma emocionante história de mãe e filha, vividas por Shirley MacLaine e Debra Winger.


Convencional mas não menos enternecedor: Laços de Ternura

Com os anos 70 em diante, muitos ótimos filmes com mulheres fortes e tons feministas foram realizados.


Alice Não Mora Mais Aqui (Scorsese, 1974) merece ser mais lembrado, no meio da filmografia tão ‘’macho’’ do diretor, pois não deve em nada a Taxi Driver e cia, contando a história de Ellen Burstyn como uma mãe viúva que cai na estrada com o filho atrás de uma vida melhor. Depois de perder por O Exorcista, Ellen Burstyn venceu o prêmio de Melhor Atriz pelo seu trabalho como Alice.


Em An Unmarried Woman (Paul Mazursky, 1978), que poderia ser uma história comum sobre uma mulher que enfrenta o divórcio, Jill Clayburgh fez um belo trabalho ao explorar as várias nuances de uma mulher em busca da felicidade, do autoconhecimento e da liberação sexual  tão em voga nos anos 70. Sem rótulos, é a vida de uma mulher como qualquer outra. E mais do que casamento, as mulheres estavam à procura de algo mais.


Com os novos tempos, as protagonistas de Carrie e Alien por exemplo vinham para fugir das representações tradicionais de mulher, longe de casamento e romances.


Sátira de suspense com ficção científica, Esposas em Conflito (The Stepford Wives, 1975) brincava com a noção de ''mulheres perfeitas'' quando Katharine Ross se muda para Stepford com o marido e percebe que há um terrível segredo para as esposas da cidade serem ''perfeitas'' demais e viverem apenas para agradar os maridos. Sobre o remake cômico com a Nicole Kidman: fujam!

John Waters ficou mais comportado depois da era Pink Flamingos, ou Female Trouble (1974) que era talvez um women’s picture totalmente subversivo. Em Polyester (1981), seu filme mais família, Divine luta para salvar seu casamento e seus filhos, e tentar não afundar na bebida - mas ela dá a volta por cima. Serial Mom com Kathleen Turner também era outra sátira da vida suburbana e da ‘’mãe perfeita’’ que assassinava todos que fugissem das normas da boa conduta, como quem não rebobinasse o VHS ou usasse branco depois do Dia do Trabalho.


Mamãe é de Morte



O soviético oscarizado Moscou Não Acredita em Lágrimas (Vladimir Menshov, 1980) trazia três amigas trabalhadoras da capital russa. Cada uma se envolvia com um homem diferente, e com o tempo compartilham seus dramas (divórcio, adultério, alcoolismo, envelhecimento e depressão) uma com a outra.


Querendo distância do destino imposto a elas, através da erudição, temos uma humilde cabeleireira indo atrás de cultura e aprendizado em Educating Rita (Lewis Gilbert, 1983). E também uma jovem independente e aspirante a escritora em My Brilliant Career (Gillian Armstrong, 1979).



Quanto irá durar o amor de Meryl Streep por Jack Nicholson, ao som de Carly Simon em loop com Coming Aroung Again, em A Difícil Arte de Amar (Heartburn, Mike Nichols, 1986). Há vezes que o melhor é partir e seguir em frente



Não é música do Pink Floyd nem dos Bee Gees, mas dos filmes sobre iniciação sexual, aborto e maternidade precoce de uma jovem ousada na conservadora sociedade britânica há o interessante Wish You Were Here (David Leland, 1987).


Junto com Wish You Were Here, For Keeps é mais um exemplar de ''coming of age'' retratando o amadurecimento de uma adolescente rumo à idade adulta. Lorelai Gilmore de Gilmore Girls, quando perguntaram como ela aprendeu a lidar com a gravidez precoce, disse ''Eu vi For Keeps com a Molly Ringwald'', filme adolescente cativante e com temática pertinente (1988). A vida da adolescente e do namorado muda quando ela fica grávida.

Na França ocupada, sem grandes perspectivas para sustentar sua família, Isabelle Huppert passa a ganhar a vida fazendo abortos clandestinos no pesado e cru Um Assunto de Mulheres (Une Affaire de Femmes, Claude Chabrol, 1988).



Novamente Woody Allen, um de seus filmes mais centrados nas mulheres talvez seja a dramédia Hannah e Suas Irmãs (1986), uma espécie de Rocco e Seus Irmãos cômico em NYC, onde a personagem de Mia Farrow, como era Alain Delon no drama de Visconti, é o eixo de sua família à beira do colapso, e a mais centrada comparada às suas irmãs mais vivazes e neuróticas - dela parte o conflito e até ela chegamos ao apaziguamento do conflito, quando tudo se resolve no maior estilo profundo mas bem-humorado alleniano. Interiores (1978), a la Bergman, tinha também três irmãs num drama familiar cheio de silêncio. Quando o pai de família abandona a mulher para ficar com outra, e a mãe da família começa a perder a lucidez, o castelo de areia ameaça desabar, culminando na marcante passagem final na casa de praia. Seus dramas bergmanianos A Outra (um Morango Silvestres estrelado por Gena Rowlands) e Setembro, também da década de 80, tinham mulheres como centro das jornadas existenciais das películas.


Gerações de mulheres de fibra
Tomates Verdes Fritos (Jon Avnet, 1991) transcende a ideia de mero ‘’chick flick’’ como um exemplo de bom filme e storytelling, emocionando e prendendo a atenção do espectador com a história dessas mulheres tão fascinantes, do passado e do presente.  A velha senhora vivida por Jessica Tandy nos conta a história de Idgie e Ruth (Mary Stuart Masterson e Mary-Louise Parker), duas mulheres que superaram as maiores adversidades, sempre unidas contra o machismo e a repressão. Inspirada pelas histórias, Kathy Bates rouba a cena como a dona de casa que desiste de querer agradar o marido se enrolando no celofane e decide finalmente ir atrás da própria felicidade. TOWANDA!!!

Eterno meme





Filmes de mulherzinha? Não brinque com elas. Blockbusters de qualidade com mulheres inspiradoras e cativantes foram feitos com o passar das novas décadas e ainda são feitas aqui e lá, seja comédia como Como Eliminar Seu Chefe (1980) ou Flores de Aço (1990). 




Um manifesto da liberdade feminina, tão atual quanto em sua estreia há 26 anos, Thelma & Louise (Ridley Scott, 1991) é uma mistura de women’s pictures com o ‘’buddy movie’’ (por Deus, quantos mil filmes de caras amigos pegando estrada juntos existem por aí?).  Louise (Susan Sarandon) é uma mulher e tanto, mais vivida, e de muita fibra, mas nem por isso não tem seus momentos de fossa e solidão. Thelma (Geena Davis) evolui muito ao longo da projeção, de uma mulher frágil e avoada à uma mulher que não leva desaforo pra casa, graças à amizade da companheira de estrada e aos baques que toma da vida - ao atirar num cara que queria estuprá-la, as duas fogem e acabam perseguidas pela polícia (se Thelma respondesse pelo ato, teria muita gente dizendo que a culpa de tudo era dela, até de ser estuprada - como ainda acontece hoje). Os homens do filme são todos uns idiotas, incapazes de satisfazê-las ou entendê-las. As duas são o centro do filme, nos emocionamos e torcemos para elas terminarem bem, por mais impossível que seja. A grande mensagem do filme para as mulheres é: DON’T SETTLE!


''We get what we settle for''


Toni Collette era uma moça fora dos padrões e amante de ABBA que via sua vida mudar através do amor e da amizade no australiano O Casamento de Muriel (1994). Apenas um dos tantos filmes ótimos dos anos 90.



Um dia na vida de uma mulher. Essa, em termos bem gerais, era a proposta de Mrs. Dalloway, romance que Virginia Woolf (Nicole Kidman) está escrevendo nos anos 20. A dona-de-casa Laura Brown (Julianne Moore), nos anos 50, está tentando preparar um bolo para o aniversário de seu filho, mas não consegue parar de ler o romance de Virginia. Nos anos 2000, Clarissa (Meryl Streep) está vivendo a história do romance: ela está preparando uma festa para seu amigo, portador do vírus da AIDS. As três mulheres, cada uma em sua era e de sua forma, estão ligadas pelo romance da mulher atolada pelo cotidiano, pelas convenções, pelos ‘’deveres de mulher’’, e pelo flerte com a ideia do suicídio. Eis o fascinante As Horas (The Hours, Stephen Daldry, 2002), baseado no romance de Michael Cunningham. Poderoso drama da última década.


UFA!!! Depois de tantos filmes citados, a que conclusão podemos chegar?

REFLEXÕES


Esses filmes, mesmo tendo um público alvo e por vezes ditarem noções de ‘’feminino’’ e beirar o status quo, não se limitam a nada disso. Sou amante do cinema clássico mas sei reconhecer coisas das quais não gosto ou ache totalmente old fashioned ou tosco. Mais do que as plateias femininas, esses filmes são capazes de cativar qualquer um com sensibilidade - e acima das discussões e divergências com conteúdo, a sensibilidade é a força matriz desse cinema. Atemporais ou datados, mesmo que produtos de seu tempo, os filmes continuam a nos cativar, tamanho impacto possuem essas películas que continuam a atravessar as décadas com charme, graça e espirituosidade. Não somos obrigados a seguir aquilo à risca, como vimos versões subversivas ou que invertiam a ordem das coisas, como cada mulher queria sua vida ou o que era melhor para si.



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A vida é feita de escolhas. Nos filmes, as mulheres parecem sempre precisar fazer uma escolha. Houve um tempo em que tudo era simplesmente imposto a elas (não tão distante). Ao longo do século XX tudo mudou muito, e o cinema jamais poderia não estar filmando momentos históricos. Geralmente há dois pólos opostos entre a mulher, ansiosa por um meio-termo, por uma igualdade que até hoje ainda não foi totalmente alcançada. Independente do quão questionáveis podem ser algum fatores datados ou escolhas que as personagens venham a fazer: cada um vive como quer, ou assim deveria ser; ou melhor, deve ser. Afinal, estamos falando de filmes, e ao invés de apenas problematizar tudo e todos, vamos tentar entender, analisar, contextualizar, respeitar.


Através dessa longa jornada cinema adentro, vimos uma miscelânia de personalidades femininas, dos mais diversos tipos. Acima de tudo, o que fica de todas elas é a mais pura arte de se fazer cinema, de interpretar, de transcender através da Arte. O que fica é a força do sentimento, do talento, da arte, dos atos de amor. De alguma forma, acompanharmos e compartilharmos junto dessas mulheres as lágrimas, as alegrias, os dramas, os amores, os sacrifícios, as redenções, mesmo que próximos ou distantes de seus mundos privados. E o melhor de tudo: NOS INSPIRAR!!

A Arte pode ser fonte de inspiração e uma forma de resistência. A Arte, além do mero entretenimento, pode nos ajudar a mudar a nossa realidade.



Guia de como ser badass com Kate Hepburn


Gênero, com o passar dos anos, é cada vez mais ilimitado e eles tendem a se mesclar. Filme ‘’de mulher’’ é uma denominação, mas está longe de ser apenas de mulher - mas SEMPRE  a mulher será o eixo desse mundo, afinal o que seria do planeta sem elas? Nada! Clichês, estereótipos acontecem, há filmes que são realmente ruins ou datados, mas quem manja sabe usar os clichês com destreza ou até subvertê-los. Mas afinal, quem não gosta de um final feliz típico hollywoodiano ? De drama e tragédia já basta a vida, for Christ's sake.


Hoje em dia, mesmo com os muitos progressos alcançados na sétima arte, continua sendo raro um maior número de filmes sobre mulheres, com personagens fortes e bem escritas, e oportunidades para as mulheres darem tudo de si. Ainda mais agora que as mulheres tiveram mais conquistas comparando com antigamente - mas ainda longe do suficiente, pois infelizmente muitas coisas ainda não mudaram. Quantas atrizes veteranas de hoje em dia estão no ostracismo ou relegadas à papéis abaixo de suas capacidades? E quantos filmes machistas toscos, onde as mulheres são só secundárias, ou filmes açucarados e piegas feitos à exaustão por aí, que tratam as mulheres como dementes? Bom… Muitos consideram melodrama brega e over the top, mas atire a primeira pedra quem não gosta de um novelão de qualidade?



Sublime Obsessão, outro lindo e lacrimal clássico drama romântico de Douglas Sirk com Rock Hudson e Jane Wyman que vale o ingresso. Assim como Imitação da Vida, o filme foi inspirado em filme original dos anos 30 de John M. Stahl, com Irene Dunne e Robert Taylor


Ainda é cedo para dizer profundamente sobre a recepção dos women’s pictures nas novas gerações, mas vejo que os clássicos continuam sendo adorados, e as divas do cinemas veneradas e inspirando novas gerações de fãs. O tempo não apaga a grandeza dessas obras, que nos trazem ainda tantas questões pertinentes quanto ao papel da mulher na sociedade, e as representações de mulher no cinema. Eu não sou mulher, mas tenho empatia o bastante para me colocar no lugar, me emocionar e, de alguma forma, me identificar com elas. E eu sou parcial: as mulheres sempre são mais interessantes do que os homens, na Arte e na Vida. Mas não façamos guerrinha ou disputa sobre quem é melhor: o que interesse é cinema de qualidade, e a graça de uma história bem contada.


E você, qual sua opinião sobre os women’s pictures? Sentiu falta de algum filme? Deixe seu comentário. Gostaria de falar de todos os filmes, mas enfim, quando eu lembrar de um filme que eu ache pertinente ou bacana de compartilhar, vou acrescentando ao texto.


THIS! Quote icônica de A Noite Americana (La Nuit Américaine, François Truffaut, 1973)

Esse texto aqui acho que conseguiu ficar ainda maior que todos que eu já escrevi, HELP. Quem leu até o final ganha uma viagem até a mansão do Capitão von Trapp nos Alpes Suíços. Gostaria de falar de todos os filmes do mundo ad infinitum, mas no próximo post tem mais, pessoal. Até a próxima, noviç@s!

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